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Falamos com o responsável pela Thrash Publinsing. Mário Lino Soares Faria, nasceu em 29 de Setembro de 1972 de São Miguel. Define a sua profissão como praticante de farmácia. Mas na verdade Mário Lino de há alguns anos para cá tem vindo a evidenciar-se como promotor das bandas açorianas.
Há quanto tempo é que iniciou o interesse pela música em si e que tipo de bandas ouvias?
O gosto pela música, todos nós o apanhamos desde muito pequeninos, mas estás-te a referir ao Heavy Metal. O mesmo entrou nos meus gostos pessoais nos finais dos anos 80 e principios de 90. O gosto pela música de cada um é muito influenciado pelo sítio onde vive, grupo de amigos onde nos inserimos e meio social que nos circunda. Por ironia do destino, a minha "turma" era composta por malta que gostava de metal e posso dizer que os culpados são os meus amigos.
Quanto a nomes posso dizer-te que cheguei a ouvir Twisted Sister, Saxon, Iron Maiden e com o passar do tempo fui me interessando por Metallica, Faith no More, Suicidal Tendencies, Anthrax, Sepultura, Pantera e por aí fora.
Que memórias tens desse tempo a nível de bandas açorianas?
Recordo-me que os anos de 90 e 91 foram práticamente o arranque do Metal nos Açores e foi a partir daí que o pessoal deixou de ser simples ouvinte e começou a produzir Metal. Foi nessa época que surgiram os Wreck Age , Morbid Death aqui em São Miguel sem esquecer os Stormwind de Santa Maria. Já se passou muito tempo e torna-se difícil estipular datas e ordem nos acontecimentos, mas surgiram nomes que ficam como pioneiros do Metal como os Noxious , Prophecy of Death, N.O.I.S.E.
Sem dúvida que estes primeiros anos foram excelentes porque saíram das garagens sons arrasadores e só assim a sociedade ficou confrontada com uma realidade Heavy Metal que até desconheciam a sua existência.
Qual foi o teu primeiro contacto com o meio underground?
Ora bem, o interesse por conhecer a realidade do metal era grande, na época que era, situado no meio da Atlântico, sujeito a uma sociedade materialista e super elitista, era muito difícil encontrar boas fontes de informação. As revistas pouco informavam e só falavam de bandas muito comerciais e não eram boas fontes de informação. Então comecei a ir buscar fontes a outro lado, comecei a comprar edições underground ou zines no continente, pelos correiros. Constatei assim uma realidade metálica completamente diferente e muito rica. Tudo isso foi feito através de correspondência postal. Para além de apenas me ligar a zines, comecei a travar conhecimentos com muitos outros apreciadores, depois destes vieram os clubes de fãs , as bandas underground e mais tarde as rádios, tornando-se uma rede cada vez maior.
Como surgiu a oportunidade de formares o clube de fâs dos açorianos Morbid Death e porquê o seu termino?
Desde os primeiros concertos dos Morbid Death , eu e o meu amigo Ricardo Teixeira eramos fãs incondicionais da banda e estávamos sempre a acompanhar a sua evolução, íamos a todos os concertos e ensaios pois a banda era nossa amiga de longa data. Em todos os concertos dos Morbid Death havia um grupo de apreciadores que estavam sempre lá para fazer a festa. Sendo assim, porque não criar um clube de fãs? Já que havia muito pessoal apreciador dos Morbid Death! Foi assim que eu e o Ricardo formámos o clube de fâs, o qual teve todo o apoio da banda e ajuda do manager da mesma, na altura o Mario George Cabral. Lembro-me que o clube foi formado em finais de 93.
Se bem me recordo eram mil escudos por ano na altura. Mas este pessoal era muito novo e a média de idades rondava entre os 15 e 18 anos. Ora, nesta idade quem tem cabeça para estar a preocupar-se em pagar quotas e gastar dinheiro com este tipo de coisas. Talvez tenha sido este o motivo que não motivou o pessoal a aderir ao clube de fâs. Os membros do club foram poucos e passados 2 anos desistimos da ideia.
O que sentes ao ver que em 1998 o clube de fâs dos Morbid Death renasceu sob o
nome de "Silêncio Profundo" Fanclub, por iniciativa terceirense?
Fiquei muito satisfeito em ver o clube ser levado de novo avante e por mais extraordinário na ilha Terceira, por alguém sem qualquer tipo de ligação à banda e que embora conhecesse pouco da banda estava disposto a fazer muito para que tal se alterasse. Por outro lado esta entidade tem objectivos diferentes e um horizonte bem mais vasto, criando um clube de fâs a nível nacional, o que não acontecia com o primeiro. E talvez a nivel internacional, porque não?
Os Morbid Death actualmente não têm o mesmo porte que em 93 e por isso a existência de um clube de fâs vem reafirmar a dimensão da banda. São pontos que contam a favor da banda.Tenho acompanhado o evoluir do "Silencio Profundo" fanclub e dou os meus sinceros parabéns à equipa da Morbid Metal Productions.
Qual foi a tua primeira publicação underground, foi a zine do clube de fâs dos Morbid Death? Que reacções obteve a nível nacional?
Uma das vantagens do clube de fâs era a edição de uma zine periódica sobre a banda e de novidades do underground nacional e que era distribuida gratuitamente pelos membros. Esta zine teve o nome de Thrash Publishing e embora todos os textos fossem da minha responsabilidade e do Ricardo Teixeira, tinha a edição gráfica da responsabilidade da banda. Já que eu tinha acesso a muita informação das zines que adquiria, porque não partilha-la com os outros, neste caso os membros do clube. Por outro lado esta zine também era distribuida para o continente.
Reações! posso dizer-te que vários foram os pedidos, principalmente a partir do momento que os Morbid Death começaram a ter destaque no continente através das melhores críticas relactivas à demo-tape "Nomad"...
Falei em público nacional, mas na altura havia underground em São Miguel?
Havia bandas e era este o underground que era preciso ser divulgado lá fora e eram muitos os curiosos que o desejavam conhecer.
Mas refiro-me a underground regional a nível de bandas, pois haviam umas quantas, mas em termos de underground informativo pouco há a mencionar.
Para além da Thrash Publishing, aqui só havia o programa de rádio "Rock Station" do José Andrade. Por falar em José Andrade, ele já fazia rádio muito antes da minha zine aparecer e ainda hoje anda a "dar o litro", para não falar dos muitos projectos de que já foi responsável. Com o tempo foram surgindo outros projectos e ficando pelo caminho muitos outros.
Falando agora apenas dos Morbid Death como banda, o que pensas do trabalho desenvolvido por eles?
O Ricardo Santos vocalista dos Morbid Death é meu vizinho, e já antes deles se formarem já ouviamos Metal juntos com muita mais malta. Por aí já imaginas os laços de amizade que existem. Quanto ao trabalho deles, sem dúvida que não posso dizer mal. São a banda de Metal pioneira nos Açores e a melhor até à data. Se continuarem com o gás que até aqui tiveram, irão mais longe e para o que der e vier, eles tem amigos que os apoiam desde a primeira hora e o farão por muito tempo.
O que pensas do panorama musical terceirense, durante estes últimos tempos o panorama musical terceirense tem evoluido, concordas?
Parece que 98 foi o ano para os projectos terceirenses perderem a timidez. Pessoalmente sempre tentei criar laços com alguns projectos aí na Terceira mas nunca tive as mesmas reacções.
Talvez não quisessem dar confiança a um estranho, não sei..
Mas estou a ver que a Morbid Metal Produtions anda a modificar isso, e muitos estão a trabalhar como "gente grande".
Gostei de ver os C.H.C participarem no Novas Ondas, dos Gods Sin a editar a promo e os DeathFull a lutar.Agora vou lançar um desafio.
Malta da Terceira, os micaelenses têm uns anitos de avanço, por isso vamos lá trabalhar e mostrar que os terceirenses também são bons. Afinal quem ganha com isso é o Metal açoriano.. certo ?
Durante todo o teu trabalho desenvolvido em prol do Metal açoriano,
levaram-te à consagração como o expoente máximo do underground açoriano e
nacional, que comentário fazes a essa consagração?
Olha, não me considero expoente máximo de nada, nem muito menos me vejo ou desejo ser consagrado de coisa alguma.
Apenas sei que estou há algum tempo ligado ao nosso underground e tenho feito muitos amigos e se alguns me ajudaram em algo, tentei da mesma forma retribuir a ajuda a outros. Nesta vida, sózinho não se vai longe e uma mão lava a outra.
Se há alguns anos atrás me foi dada confiança e conhecimentos nesta área, lógicamente nos dias de hoje existem muitos como eu, e se tenho meios para alterar esta situação, não tenho qualquer problema em contribuir para tal.
Uma coisa não admito e suporto é abuso de confiança e vedetismo. Se precisam de ajuda para serem mais do que outrem, favor bater a outra porta.
E claro o que pensas do panorama musical açoriano actualmente?
Achas que o Metal açoriano tem todas as condições de singrar no
panorama nacional e internacional?
Actualmente já existem muitas mais facilidades e meios para produzir algo de bom.
E a prova disso é a situação das nossas bandas no exterior. No continente, quando se fala de Metal feito nos Açores, o pessoal fica logo com curiosidade . Não sei se sabes , mas temos poucas bandas conhecidas lá fora, e estas poucas têm óptima posição nas preferências, por isso temos o factor qualidade a nosso favor.
Acho que temos bons valores cá na região, mas valores muito jovens e mal "organizados". O pessoal não tem muita segurança naquilo que faz e ao primeiro falhanço muitos desistem.
Mas acredito que se houver persistência, conseguem vingar . Tomem os Morbid Death como exemplo.
Uma banda não se faz em meses, por isso malta, se ao primeiro ano não conseguirem nada, existe um segundo ano, e trabalho de garagem ajuda muito a evoluir.
Qual é a tua opinião à forte concorrência que as bandas têm entre si?
Acontece em toda a parte. Claro que não dá um bom ambiente, mas é uma realidade.
Enquanto considerarmos concorrência, tudo ok, mas 98% dos casos esta concorrência é transformada em rivalidade. Isto nada de bom traz ao meio, mas quem tem que se aperceber disso são as bandas.
Duas bandas unidas talvez consigam mais do que atacando-se uma à outra.
Sei que tens sido diversas vezes convidado a efectuar agenciamento de bandas, e a todas elas negaste, algum motivo especial?
Embora o metal seja algo importante para mim, infelizmente não passa de um hobby, porque não pode ser uma forma de vida ou subsistência.
Ser manager requer muitas responsabilidades e é preciso muito tempo para o fazer com qualidade e 100% funcional.
Por isso o meu trabalho rouba-me muito tempo e como não me quero comprometer a algo que não estaria 100% dedicado, não aceito embora desejasse.
Ou se faz ou não se faz, fazer um trabalho imperfeito, não vale a pena.
Gostava de saber o que pensas do termo de actividades por parte dos Obscenus?
Os Obscenus eram sem dúvida uma nova potencialidade regional. Terem acabado não foi nada saudável para o nosso underground. Eles são responsáveis e cada um sabe de si, se decidiram pôr fim às actividades é porque não estavam a funcionar como desejavam. Não me vou prenunciar sobre este tema.
| E actualmente que actividades é que a Thrash Publishing está a
desenvolver?
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Nunca tiveste o sonho de seguir uma profissão do ramo musical? Lógico que a área musical sempre foi um sonho. Mas a música como meio de vida não é real nesta sociedade. Por isso temos que nos sujeitar ás leis da sociedade e trabalhar. Por isso estou a trabalhar em farmácia embora não seja em nada uma ambição mas sim uma ironia do destino.
Contacto:
Mário Lino Faria
Rua Tavares Canário, 12
9500-347 Ponta Delgada
Website: http://www.tande.com/thrash_pub
Email: thrash_pub@tande.com